E existem também as alegrias mansas. Elas nos chegam assim tão macias e mornas quanto a lembrança de um abraço de avó. A alegria mansa não se localiza. Ela vem não se sabe de onde, e fica até a percebermos. Assim, descoberta, perde sua razão e evanesce. O instante mesmo em que o dedinho da criança toca a bolha de sabão. Sorriso bobo que não se sabe sorriso. Nomeado, já é outra coisa.
Só pode ter candura quem já sentiu a chegada doce e a despedida de uma alegria mansa. Ah! como dá saudade, meu Deus... Uma saudade sem rosto, sem nome, sem memória. Saudade que tateia o vazio entre eu e a leveza do mundo. O ar em minúsculos cachinhos escorre diáfano entre os dedos da mão espalmada à procura de quê. E, de repente, se ri por ter percebido que se estava a ponto de chorar só por causa do pôr-do-sol.
Nomeada, a alegria cala tudo. Depois de alegriazinha, fico assim silencioso por três dias, só escutando. É o corpo que escuta a vida. Passado o estremecimento, tudo volta à sua música caótica habitual. Poesia virou carne e sangue. Meu poema só pode ser escrito em braile.
tal alegria mansa
ResponderExcluiré uma revelação em si mesma
...
tocante, camarada.
forte abraço.