Este blog surge a partir do módulo "Arte e Literatura: Humanidades Médicas I" do curso de Medicina da Universidade Federal do Ceará. O módulo tem por objetivo explorar, junto com as e os estudantes de graduação em Medicina, outras dimensões da práxis médica que não apenas as competências tecnológicas duras. Para isso, lança mão de recursos pedagógicos vivenciais e audio-visuais, trazendo elementos da Literatura, das Artes Plásticas, do Cinema, bem como das experiências pessoais compartilhadas pelas e pelos estudantes.
Apesar disso, hoje o blog não quer se definir. Aqui encontram-se estranhamentos e aleluias cotidianos de um contínuo tornar-se.

domingo, 10 de julho de 2011

Meu fado

Quando eu nasci, veio a mim um anjo da parte do Senhor,
pintou-me o peito de anil e plantou ali fundo
um pé de gerânio roxo.
"Há de ser assim para que fique bonito",
disse com ar de chef e partiu.
Desde então, acalento com o maior zelo
essa angústia bendita que me acompanha
e que me enriquece.
Adubo-a, protejo-a do sol forte, rego-a.
Chorar, eu prefiro fazer pertinho de Deus,
quando ele me abençoa e me enche de poesia --
é uma flor que se abre.
Sou um vaso que transborda por não caber mais em si!
Minha alegria e minha tristeza são uma só coisa.
Tudo é graça divina. Plenitude.
Se tento me afastar, arrancar deste chão o talento escondido,
abre-se uma vala por onde toda beleza feinha escorre,
e a pele vira terra seca do sertão.
Fragmento-me todo rachado.
Sucumbo ao desespero da futilidade
e sinto vertigens de morto-vivo.
As pessoas nascem para certas coisas na vida.
Eu nasci para isso:
para cultivar melancolia.


3 comentários:

  1. eu, por mim, vivia rindo.
    só que eu não consigo.
    acho que eu tenho vergonha de ser feliz, herley.

    (tenho a memória muito boa também.)

    P.S.: vc vai adorar o livro do desassossego.

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  2. Herley? Adélia? hahaha
    Não importa, adoro os versos desses dois!

    Herley vai ser porta bandeira, a maldição de ser coxo na vida não caiu sobre você.

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  3. Desenterremos os vivos pois com eles descobriremos a sobriedade do que é ser demasiadamente humano!

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