pintou-me o peito de anil e plantou ali fundo
um pé de gerânio roxo.
"Há de ser assim para que fique bonito",
disse com ar de chef e partiu.
Desde então, acalento com o maior zelo
essa angústia bendita que me acompanha
e que me enriquece.
Adubo-a, protejo-a do sol forte, rego-a.
Chorar, eu prefiro fazer pertinho de Deus,
quando ele me abençoa e me enche de poesia --
é uma flor que se abre.
Sou um vaso que transborda por não caber mais em si!
Minha alegria e minha tristeza são uma só coisa.
Tudo é graça divina. Plenitude.
Se tento me afastar, arrancar deste chão o talento escondido,
abre-se uma vala por onde toda beleza feinha escorre,
e a pele vira terra seca do sertão.
Fragmento-me todo rachado.
Sucumbo ao desespero da futilidade
e sinto vertigens de morto-vivo.
As pessoas nascem para certas coisas na vida.
Eu nasci para isso:
para cultivar melancolia.
eu, por mim, vivia rindo.
ResponderExcluirsó que eu não consigo.
acho que eu tenho vergonha de ser feliz, herley.
(tenho a memória muito boa também.)
P.S.: vc vai adorar o livro do desassossego.
Herley? Adélia? hahaha
ResponderExcluirNão importa, adoro os versos desses dois!
Herley vai ser porta bandeira, a maldição de ser coxo na vida não caiu sobre você.
Desenterremos os vivos pois com eles descobriremos a sobriedade do que é ser demasiadamente humano!
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