"Ya conocéis mi historia: no hay ninguno de vosotros que no la haya repetido veinte veces al acabar la copiosa comida, acompañada del bostezo de las sirvientas, ni una de vuestras mujeres que no haya soñado ser alguna vez Clitemnestra. Vuestros pensamientos criminales, vuestras ansias inconfesadas ruedan por los escalones y vienen a derramarse en mí, de suerte que una especie de horrible vaivén hace de vosotros mi conciencia y de mí vuestro grito." (Yourcenar, M. Clitemnestra o el crimen)A Medicina, entendida como ciência positiva do corpo, é uma fantasmagoria. Sua única salvação possível é incorporar-se à vida. Nesse sentido, se eu disser que o máximo que a Ciência Médica pode querer é ser uma interpretação possível do real, penso não ser mal compreendido. Entendida como vontade de verdade, uma Medicina tal que não se compreenda como produção cultural, portanto humana, corre o risco de descolar-se daquilo mesmo que investiga e de se tornar absurda. Dessa forma, resta a ela se esforçar para olhar o corpo na maior amplitude de sua espacialidade possível. Isto é, o corpo desejante, empoderado, torturado, decadente, sublime, simbólico. O corpo que vive. Humano. A Medicina enquanto ciência -- se é que é possível -- transfixa com olhar não somente o corpo apolíneo de Cassandra, mas o dionisíaco corpo de Clitemnestra. Esse olhar só pode ser interpretante. Só pode ser um olhar-palavra. Linguagem. Humanidade!
Isso não quer ser uma tese, mas não deixo de me empolgar com a VII Semana de Humanidades UFC/UECE que hoje se encerrou. Pergunto-me se, algum dia, será lícito pensarmos em uma Semana de Humanidades da Saúde. Espero que sim. Enquanto isso, resistamos à mediocridade e à incultura. Isso, caros e caras, é uma luta por uma prática médica enfim lúcida.
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