A Medicina, entendida como ciência positiva do corpo, é uma fantasmagoria. Sua única salvação possível é incorporar-se à vida. Nesse sentido, se eu disser que o máximo que a Ciência Médica pode querer é ser uma interpretação possível do real, penso não ser mal compreendido. Entendida como vontade de verdade, uma Medicina tal que não se compreenda como produção cultural, portanto humana, corre o risco de descolar-se daquilo mesmo que investiga e de se tornar absurda. Dessa forma, resta a ela se esforçar para olhar o corpo na maior amplitude de sua espacialidade possível. Isto é, o corpo desejante, empoderado, torturado, decadente, sublime, simbólico. O corpo que vive. Humano. A Medicina enquanto ciência -- se é que é possível -- transfixa com olhar não somente o corpo apolíneo de Cassandra, mas o dionisíaco corpo de Clitemnestra. Esse olhar só pode ser interpretante. Só pode ser um olhar-palavra. Linguagem. Humanidade!
Isso não quer ser uma tese, mas não deixo de me empolgar com a VII Semana de Humanidades UFC/UECE que hoje se encerrou. Pergunto-me se, algum dia, será lícito pensarmos em uma Semana de Humanidades da Saúde. Espero que sim. Enquanto isso, resistamos à mediocridade e à incultura. Isso, caros e caras, é uma luta por uma prática médica enfim lúcida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário