Sem dúvida, ouvir Alela Diane é uma experiência marítima. Sim. Em seus dois trabalhos, a musicalidade da cantora nos transporta e nos convida a vivenciar o mar a partir de diferentes perspectivas, tendo como fios de tecitura os ecos imemoriais nas vozes das ondas. O mar é cantado em The Pirate's Gospel (2006) como que da fria e secreta gruta à noite. Com uma atmosfera por vezes fantasmagórica, por outras intimista -- embora sempre com uma delicadeza sui generis -- Alela nos apresenta o cheiro salgado da água noturna do século XV, que atravessa o tempo e nos constitui a partir do encontro com o mar mais imediato. É a sensação de estar completamente envolvido pelas águas, no abraço perigoso, mas enigmático e, por isso mesmo vivo, das marés. Alela nos fala sobre sua infância, sobre família e sobre o cuidado com um mundo em cujos limites pesam nossas mãos. O verde fantasma do pirata nos conta suas histórias tristes e bonitas, enquanto dança em volta da fogueira e se dá conta de sua ambição avarenta.
Estabelecendo uma relação mais etérea e quem sabe nostálgica com o mar, em To Be Still (2009), a cantora nos leva a um abismo frente ao oceano para que assistamos juntos ao pôr do sol. Se no trabalho anterior suas canções nos tocavam por nos remeter a uma ancestralidade quase que intuída, neste esses ecos se ampliam de forma tal que só é possível sentir perplexidade ao escutar suas melodias. Tudo nessas canções é grandioso e solene. Não se trata mais do mar do pirata. É, antes, o oceano sublime, intangível e inexplicável que nos emudece. Não é possível tocá-lo, mas ele se dá a ver no azul ancestral dos olhos de sua mãe. Todas as músicas são uma elevação de qualquer coisa em nós, finalizando com a cortante e delicadíssima Lady Divine.
Ouvir Alela Diane é um encontro de si e, ao mesmo tempo, do passado remoto e diáfano em nós. Sua voz é encantada.