I.
Na escuridade aberta da madrugada, a lua branda me noturna.
Meu coração, nessas ocasiões, bruxuleia.
II.
Ao alçar da noite, São Paulo floresce feito um braseiro.
III.
Meu pai represou bondades.
Gota-a-gota.
Outro dia, escorreu alegria líquida.
Brilhos.
IV.
Minha mãe tem olho de menininha.
Aponta o mundo e diz: olha!
E tem gargalhadas de cheiros.
A folha seca de inverno não entendeu coisa alguma. Caiu dura, dura.
V.
De repente, compreendi com a pele uma confissão muda que se encontrava atravessada por tudo naquele lugar. Nos olhos das pessoas deitadas no grama, na conversa dos adolescentes embriagados de inflamações vitais, na mulher musgosa que tricotava no metrô. Foi assim: pendia de um mastro metálico que gritava de luz uma longa e lenhosa trança de bronze que enraizou-se no chão, toda parada. A corda arvorecida era. Envolveu-me um frio silencioso.
VI.
Do alto das nuvens, olhando-se para o chão, veem-se andanças de caramujo.
VII.
Exercito minha miopia para ver melhor pimentinhas-rosa, broches, esqueletos de folhas e resto de cigarro jogado na vida. Tenho admiração por grãos de areia.
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