O monstro é o nosso ponto de incomunicabilidade. É aquilo em nós que só pode se manifestar através da explosão. Aquilo que grita, que dança, que corre, que excede, que despreza a razão. O monstro é Dionísio.
No fascinante e ousado "Onde Vivem os Monstros" de Spike Jonze, somos interrogados acerca do que temos feito da monstruosidade. Até aqui, nada de muito novo, uma vez que ela marca sua presença em nossas histórias desde muito cedo -- lembremo-nos dos contos de fada e dos filmes de horror. No entanto, a perspectiva em que o filme nos faz observar o que seja o monstro difere em muito do não-humano, ou anti-humano, terrível e ameaçador, que deve ser recalcado, ou projetado no outro e destruído para que possamos afirmar nossa própria humanidade. Ele é, na verdade, aquilo mesmo que nos constitui indivíduos. E isso já é sugerido pelo subtítulo da obra: "Há um em todos nós". A função do monstro não é nos mostrar o que não somos, mas sim denunciar aquilo que não podemos. A jornada empreendida por Max -- garotinho protagonista da história, que, ao fugir de casa, encontra seus monstros, sendo proclamado rei ao prometer-lhes que nunca ficariam tristes e que sempre dormiriam amontoados -- não é outra coisa, senão o caminho da percepção da nossa solidão irremediável e da impossibilidade de nossa onipotência. Nesse sentido, o lugar onde vivem os monstros não é o inóspito, o estranho e ameaçador, mas o lugar das fantasias, do desejo sem mediações. É o coração. Ao admitir para si mesmo e para os monstros que não é rei, mas um garoto comum, Max se dá conta do outro e de si-no-mundo. Aí está o encanto dessa delicada história. A partida não é a destruição do monstro, com o triunfo do humano, mas o adeus dolorido que demarca o adultecer. Resta então a Max cumprir sua última promessa: a de contar coisas boas acerca dos habitantes da ilha.
Com uma linda trilha sonora, que nos faz lembrar o anti-folk de Juno, "Where the Wild Things Are" é uma bela metáfora sobre crescimento e sobre família. Um filminho de encher o coração.
No fascinante e ousado "Onde Vivem os Monstros" de Spike Jonze, somos interrogados acerca do que temos feito da monstruosidade. Até aqui, nada de muito novo, uma vez que ela marca sua presença em nossas histórias desde muito cedo -- lembremo-nos dos contos de fada e dos filmes de horror. No entanto, a perspectiva em que o filme nos faz observar o que seja o monstro difere em muito do não-humano, ou anti-humano, terrível e ameaçador, que deve ser recalcado, ou projetado no outro e destruído para que possamos afirmar nossa própria humanidade. Ele é, na verdade, aquilo mesmo que nos constitui indivíduos. E isso já é sugerido pelo subtítulo da obra: "Há um em todos nós". A função do monstro não é nos mostrar o que não somos, mas sim denunciar aquilo que não podemos. A jornada empreendida por Max -- garotinho protagonista da história, que, ao fugir de casa, encontra seus monstros, sendo proclamado rei ao prometer-lhes que nunca ficariam tristes e que sempre dormiriam amontoados -- não é outra coisa, senão o caminho da percepção da nossa solidão irremediável e da impossibilidade de nossa onipotência. Nesse sentido, o lugar onde vivem os monstros não é o inóspito, o estranho e ameaçador, mas o lugar das fantasias, do desejo sem mediações. É o coração. Ao admitir para si mesmo e para os monstros que não é rei, mas um garoto comum, Max se dá conta do outro e de si-no-mundo. Aí está o encanto dessa delicada história. A partida não é a destruição do monstro, com o triunfo do humano, mas o adeus dolorido que demarca o adultecer. Resta então a Max cumprir sua última promessa: a de contar coisas boas acerca dos habitantes da ilha.
Com uma linda trilha sonora, que nos faz lembrar o anti-folk de Juno, "Where the Wild Things Are" é uma bela metáfora sobre crescimento e sobre família. Um filminho de encher o coração.