Qual o limite da possibilidade de um olhar objetivo em uma relação terapêutica? O filme italiano "O Quarto do Filho" não trata especificamente disso, mas, de forma um tanto despretensiosa, nos leva a tal questionamento. Conduzido de maneira sincera e absurdamente delicada, o filme nos conta a história de um psicanalista e de sua família que têm seu relacionamento e certezas postos em cheque após uma grande perda. A angústia do vazio, talvez o tema central da obra, é explorada através dos silêncios presentes ao longo de toda história, sobretudo os do psicanalista, em suas longas corridas e na belíssima cena em que, mudo, em um parque de diversões, vivencia corporalmente a vertigem que sente de forma abstrata, ou ainda na secreta e adivinhada compreensão de si que a família intui à beira mar, na última cena. A música tema "By this River" ajuda a completar essa sensação de queda e de perda de si no nada.
A questão para nós é que não há no protagonista, ou há de forma muito sutil, uma demarcação daquilo que seja o terapeuta e daquilo que são seus outros papéis sociais. E, na mesma medida em que isso pode ser perigoso em uma relação terapêutica, é inevitável. Há uma intersubjetividade clara nessas relações, bem como há uma implicação intrinsecamente subjetiva na escolha profissional, na escolha de um objeto de conhecimento, de desejo, etc. Penso que o que La Stanza del Figlio nos comunica é que, só é possível estar sendo, enquanto se é, por mais indesejado que isso possa ser.